segunda-feira, 14 de maio de 2012

A interioridade e o Absurdo na vida


         Diante do texto “O absurdo” de Thomas Nagel, pudemos observar que, para ele, a vida é um absurdo. Neste intuito, pretendemos observar se mesmo com a presença do Deus cristão é possível que a vida seja absurda. A princípio desejamos explorar, de modo sucinto, como Nagel acredita que a vida seja absurda, principalmente quando ele fala sobre a presença de uma entidade divina. Logo após, desejamos fazer uma análise com base no pensamento de Santo Agostinho de Hipona, dando destaque a observação que este faz para a Interioridade do ser humano.
            Nagel se depara com a questão da vida como absurda e inicia seu trabalho opondo-se a algumas concepções errôneas sobre o absurdo da vida. Logo após, ele começa a expor porque a vida é absurda.
            Para ele, a vida é absurda, pelo fato de “ignoramos as dúvidas que sabemos não poderem ser apaziguadas, continuando a viver praticamente com a mesma seriedade, apenas dessas dúvidas”[1]. O absurdo seria as questões que levantamos constantemente, porém que não as solucionamos. Nagel acredita que todas as pessoas levam a vida a sério, mas quando se deparam com essas questões, deixam-nas de lado, pois veem que não tem solução. Ele intitula essas questões que nos fazemos de “Passo atrás”, pois elas são a possibilidade de nos questionarmos sobre nossas ações – poderíamos chamá-lo de reflexão, num sentido de pensar aquilo que já foi pensado.
            Portanto, para Nagel, a vida é absurda pelas inúmeras questões que nos deparamos, mas não conseguimos solucioná-las. Deve-se ressaltar ainda que o absurdo, para ele, resulta de nossa capacidade de compreender as nossas limitações humanas. Nagel vê o absurdo como constitutivo da vida, ou seja, é natural e devemos viver naturalmente. Propõe ainda abordar a vida com ironia.
            Vista a questão da vida como absurda, devemos agora estudar como Nagel vê a questão da presença de um ser superior. Nagel propõe que mesmo que estejamos contemplando e participando da glória desse ser superior (que a partir de agora iremos chamar de Deus), nossa vida continuaria absurda.
            Para ele, as pessoas que aderem a uma crença que lhes propõe servirem a Deus, contemplarem a sua glória e participar dela, se identificam suficientemente com esse Deus para se sentirem realizadas a desempenhar seu papel. Porém essas pessoas também podem colocar em questão todas essas propostas de vida e também projetos divinos, principalmente por levarem a sério essas propostas. Portanto, para ele a vida continuaria absurda, pois levariam a sério tais questões, mas mesmo assim continuariam a colocá-las em questão e não encontrarem respostas.
            Vendo essa proposta, podemos agora analisá-la a luz de partes do pensamento de Santo Agostinho de Hipona.
            A princípio observamos que Nagel não vê Deus como o Deus cristão, visto que Agostinho acredita no Deus cristão como um Deus pessoal, que vê e ouve atentamente cada pessoa, não esquecendo de suas necessidades. Para Agostinho, o Deus cristão é um Deus silencioso que sempre faz o bem, mesmo que o ser humano ainda não tenha visto sua ação como boa. Nagel somente observa um Deus no qual podemos participar de sua glória, já para a concepção agostiniana o Deus se fez humano por amor e o homem deve caminha para este Deus: “Fizeste-nos para ti e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti”[2].
            Podemos observar que Nagel deixa de ver que o Deus cristão é um Deus que caminha junto do indivíduo e ainda mais se encarnou e se fez humano. Porém, pode-se levantar uma questão: mas, ainda sim pode-se dar o “passo atrás”  e a vida continuaria absurda.
            Acreditamos que para Agostinho sempre se deve dar esse passo atrás, porém ele irá se deparar com: primeiro, o problema proposto por Nagel, da não solução por si só do problema; segundo, o homem irá se deparar com o Deus cristão que está vindo em auxílio do ser  humano e está mostrando para ele, qual o caminho deve seguir.
            O Deus cristão irá encaminhar o humano rumo à verdade, que é se encontrar dentro dele. O homem irá encontrar dentro de si, esse Deus e com ele a verdade que lhe dará segurança – sem haver margem de dúvida –, de mesmo caindo na dúvida, não poderá deixar de observar que precisa afirmar a verdade:
“Não sais de ti, mas volta para dento de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem [...] quem quer que duvide da existência da verdade, possui em si mesmo, algo verdadeiro, de onde tira todo fundamento para sua dúvida. Ora todo verdadeiro, só é verdadeiro pela verdade. Não possui, pois, o direito de duvidar da existência da verdade aquele que de um modo ou outro chegou a dúvida”[3]
            Diante disso, podemos observar que com a presença de um Deus cristão, não é possível observar a vida como absurda, isto que a verdade está no homem que tem a capacidade de duvidar. Mesmo sabendo que essa verdade é inacessível humanamente falando, ela mesma se revela para o homem, a fim de que ele esteja novamente junto dela. Portanto, podemos constatar que a vida não é absurda com a presença de um Deus cristão, visto que  este absoluto se revela e coloca a verdade acessível ao homem, para que mesmo ele se deparando com a duvida, ele possa observar que existe ao menos uma verdade que lhe garante.


[1] NAGEL, Thomas. O absurdo. In: MURCHO. Desidério. Viver para que? Ensaio sobre o sentido da vida. Lisboa: Dinalivro, 2009. p. 143.
[2] AGOSTINHO, Santo. Confissões. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984. I, 1. coleção pensadores.
[3] AGOSTINHO. Santo. A  verdadeira religião. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 1987. XXXIX.72 e 73.

Nenhum comentário:

Postar um comentário